As mudanças climáticas em curso evidenciam a nossa vulnerabilidade socioambiental aos eventos do clima, agravando situações já existentes, como a deficiência na infraestrutura de saneamento e a falta de planejamento territorial, com ocupação em áreas de risco e o uso indevido de áreas de proteção ambiental, comprometendo a resiliência de ecossistemas, destruindo proteções naturais em zonas costeiras e alterando o ciclo hídrico, por exemplo com a impermeabilização de terraços arenosos e aterramentos de áreas úmidas, como brejos e manguezais.
A intensificação e a maior recorrência de eventos El Niño, por exemplo, provocará uma diminuição das chuvas nas regiões norte e nordeste, agravando a seca no semiárido nordestino e intensificando os problemas relacionados à fome e desnutrição. A seca intensa pode afetar ainda mais a migração de pessoas para outras regiões, o que já tem resultado em um número maior dos casos de malária e leishmaniose. Por outro lado, a intensificação das chuvas, especialmente nas regiões sul e sudeste, podem ocasionar inundações, perda de colheitas e deslizamentos de encostas. Alterações nos índices pluviométricos e nos volumes dos rios podem resultar ainda em uma maior ocorrência de casos de doenças de veiculação hídrica como a leptospirose, cólera e hepatite, além da alteração na ecologia de vetores de diversas outras doenças, como a dengue e a zica.
Uma outra consequência dos longos períodos de estiagem pode ser a construção de um maior número de barragens, o que pode afetar ecossistemas locais e o balanço sedimentar em zonas costeiras, intensificando ainda mais os processos erosivos ao longo do litoral. A crise hídrica e alimentar pode aumentar também os índices de mortalidade infantil e de evasão escolar, especialmente em pequenas comunidades rurais.
Apesar de ser um problema global, os efeitos das mudanças climáticas são sentidos de maneira mais efetiva pelos países, regiões, cidades ou bairros mais vulneráveis e agravam rupturas e desigualdades socioeconômicas e culturais. Infelizmente, no Brasil, o conhecimento do risco não é suficiente para gerar um senso de responsabilidade ou um compromisso social que busque reduzir a vulnerabilidade da população em risco. Assim, os planos de adaptação às mudanças climáticas não terão eficácia se a maior parte da população vulnerável ainda não puder contar com o suprimento de suas necessidades básicas, especialmente no que se refere às suas condições de moradia, saúde, saneamento e segurança alimentar.
Foto da orla marítima de Arembepe, Camaçari/Ba.
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